Já foi o tempo em que o excesso de peso e obesidade eram considerados um sinal de prosperidade para os homens e uma característica de beleza e atratividade nas mulheres. Segundo o Dr. Daniel Lerario, clínico geral e endocrinologista, isso remonta à Era Neolítica, quando pela primeira vez na história da cultura os humanos passaram a ter a sua propriedade e animais domésticos, a praticar a agricultura e a utilizar ferramentas de cerâmica ou de metal.

Antes dessa época, explica, a obesidade era praticamente inexistente, o que ainda é realidade nos animais selvagens e na maioria dos povos que cultivam hábitos primitivos.

“A obesidade mais do que triplicou nos últimos 30 anos e isso certamente tem relação com o estilo de vida sedentário e a predominância de alimentos altamente processados na vida moderna. Estamos todos desafiados a nos alimentar melhor e nos movimentar mais para frear o avanço da obesidade e buscar ajuda médica no momento mais precoce possível”, sugere Dr. Daniel.

Qual é o peso ideal?

O método mais prático e fácil de avaliar o peso corporal é através do cálculo do índice de massa corpórea (IMC). Esta conta, leva em consideração o peso em relação à altura da pessoa.

“O IMC não mede diretamente a gordura corporal. Por isso, é possível que em alguns casos, como no de atletas, pela grande quantidade de músculos, o cálculo apresente um IMC na categoria obesidade, ainda que não haja excesso de gordura corporal. Por este motivo, é importante que o IMC seja utilizado junto de outras medidas, como a circunferência da cintura e a avaliação médica. Com base em todas estas informações será possível ao médico orientar sobre as decisões e tratamento necessários em cada caso”, explica o médico.

Atualmente, de acordo com a Associação Brasileira de Estudos sobre a Obesidade (ABESO), as medidas de risco da circunferência abdominal são de 94 cm para homens e 80 cm para mulheres.

Com relação ao IMC, é considerado peso normal o IMC entre 18,6 e 24,9 kg/m2. O sobrepeso está entre IMC 25,0 e 29,9, enquanto a obesidade inicia a partir do IMC 30,0 kg/m2.

Para fazer o cálculo do seu IMC basta dividir o seu peso em quilos por sua altura em metros ao quadrado.

Qual a diferença entre estar acima do peso e ser obeso?

Ambos os termos significam que você tem excesso de gordura corporal, mas em dois níveis diferentes. O Dr. Daniel explica que estar acima do peso significa ter alguma gordura extra, mas não tanta gordura corporal quanto o próximo nível, da obesidade.

“Tanto o sobrepeso, como a obesidade acontecem quando a ingestão de calorias é maior do que a quantidade de energia gasta ao longo do dia. Pense na comida ingerida como o combustível destinado a alimentar você. À medida que você se move ao longo do dia, queima esse combustível. Se você ingerir muito combustível, ele não será queimado, permanecendo no corpo”.

Há muitas razões e fatores pelas quais o ganho de peso acontece e, muitas vezes, há mais de um deles envolvido, tais como:

Fatores ambientais: estilo de vida, o que você come e quão ativo você é em um dia normal podem afetar seu peso

Fatores psicológicos: alimentação pode estar ligada às emoções. Há quem coma devido à depressão, ansiedade, tédio ou compulsão alimentar. Neste último caso, uma grande quantidade de comida é ingerida de uma só vez, muitas vezes sem que se consiga controlar a quantidade.

Fatores genéticos: há um componente genético indiscutível na obesidade, ou seja, se houver parentes próximos com obesidade, o risco é maior. Não podemos deixar de lado, no entanto, que nas famílias com obesidade também há características comportamentais que favorecem o encadeamento do excesso de peso. Portanto, não é apenas a genética, mas a combinação desta com o estilo de vida “aprendido”.

Condições médicas: uma condição médica ou medicação pode alterar seu metabolismo ou seu controle alimentar, causando a obesidade. Medicamentos como esteroides e antidepressivos e condições médicas como o hipotireoidismo, Síndrome de Cushing, Depressão e problemas neurológicos, são alguns exemplos.

Complicações

Pessoas com obesidade são mais propensas a desenvolver diversos problemas de saúde potencialmente graves, como por exemplo:

Doenças cardíacas e AVC – provocados sobretudo pela hipertensão arterial e alteração nos níveis de colesterol

Diabetes tipo 2 – a obesidade gera resistência a insulina e sobrecarrega o pâncreas, levando a alterações progressivas nos níveis de glicose no sangue

Câncer – sobretudo de útero, colo do útero, endométrio, ovário, mama, cólon, reto, esôfago, fígado, vesícula biliar, pâncreas, rim e próstata

Problemas digestivos – aumentando a probabilidade de desenvolver azia, doença da vesícula biliar e problemas no fígado

Apneia do sono – distúrbio potencialmente grave, caracterizado por interrupções da respiração durante o sono

Osteoartrite – provocada pelo aumento do estresse nas articulações que suportam peso

A boa notícia, revela Dr. Daniel, é que uma pequena perda de peso, de 5 a 10 kg, já pode trazer melhorias significativas para a saúde, incluindo níveis mais baixos de pressão arterial e colesterol.

Efeitos psicossociais

Pessoas com sobrepeso ou obesidade estão mais propensas a desenvolver problemas sociais ou psicológicos. Isso ocorre porque vivemos em um mundo que valoriza uma imagem corporal excessivamente magra.

“Com isso, corpos com sobrepeso ou obesidade são muitas vezes culpados por sua condição, rotulados como preguiçosos ou sem força de vontade. Não é incomum que enfrentem mais obstáculos no mercado de trabalho, com salários mais baixos que pessoas com peso adequado, bem como baixa autoestima e problemas de relacionamento.”

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